1 de maio de 2011

O acaso, amor e seus desastres - CAP. V


Vizinhos no dicionário: Que está próximo ou perto
Luísa passou a semana vigiando o novo vizinho e seus hábitos estranhos. Sempre que fazia barulho no corredor corria para o olho vivo e depois abria a porta como se fosse sair e tentava ouvir alguma coisa lá de dentro. Miguel saia todo noite e voltava de madrugada e em alguns dias de manhã, como Luísa trabalhava o dia inteiro, Josué era quem contava a rotina do vizinho, fofocar para ele não era difícil. Apenas um dia dessa longa semana Luísa e Miguel se esbarraram.
- Bom dia vizinha. Você saindo e eu chegando.
Miguel estava carregando uma câmera filmadora enorme e pesada, estava com uma cara de ressaca e com a roupa toda suja de barro. Estendeu a mão para cumprimentar Luísa e ela se esquivou com um sorrisinho sem graça.
- Pois é. Bom dia pra você também.
- Tá indo trabalhar?
 - Não. To indo à padaria.
- Engraçado a gente não ter se esbarrado ainda, ultimamente se cruzar tem sido nossa sina, e agora que somos vizinhos não nos encontramos, estranho.
- Pois é.                            
- Não tá para conversa hoje né? Acordou de mau humor?
- É. Mas tudo melhora depois de um café.
- Você também é viciada em café?
- Sou.
Entrou no elevador.
No mesmo dia mais tarde. A campainha do apartamento 603 toca.
- Josué? Você não estava de folga?
- Eu to Sr.ª Luísa, mas eu preciso de um favor...
- O quê? Aconteceu alguma coisa?
- Não, aconteceu nada não... Lembra da camisa que eu te falei que o vizinho estranho me deu?
- Lembro.
- Eu queria que a Senhora lesse pra mim a frase que ta escrita nela, porque é em outra língua e eu não entendo.

Camisa branca com a frase escrita em letras grandes e pretas: I'm not gay but my boyfriend is

Campainha do 602 toca.
- Vizinha?
Uma camisa voa e chega junto com a palavra:
- Idiota!
- Que isso? Tá louca?
- Você não tem vergonha de fazer uma palhaçada dessas com um cara de 60 anos?
- O que eu fiz?
- Você é ridículo!
- Isso tudo por causa dessa camisa? Fala sério...
 - O Josué é um Senhor de idade, humilde, um cara bacana e muito querido aqui no prédio...
- Eu não quis ofender ele... De jeito nenhum, pelo contrário, eu quis agradecer por ter me ajudado com a mudança e aí peguei a primeira camisa que vi e deu pra ele...
- Ohh! Como você é generoso...
- Se não quer acreditar tudo bem, não posso fazer nada.
Luísa vira as costas e sai andando em direção a sua porta.
- Depois eu que sou ignorante...
- Ignorante, ridículo e idiota...
- Ahhh...
Luísa bate a porta. Miguel grita no corredor:
- Ah é só para esclarecer, eu não sou gay, essa camisa foi uma brincadeira sacana dos meus amigos.
Luísa abre a porta e grita:
- Eu não estou nem aí se você é gay ou não, não tenho nada haver com a sua vida e alias, eu não me interesso pela sua vida...
Bate a porta de novo. Gritos no corredor:
- Grossa.
- Idiota.

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