29 de março de 2011

Diário de uma nova educadora - Parte II

Viver um dia após o outro.
Esse tem sido meu lema.

E minha aliada é a famosa paciência, que até então não era muito presente na minha vida, tenho feito exercícios de paciência que ultrapassam o poder de qualquer yoga...

Os dias no projeto não tem sido fáceis.  Com tempo eu consegui cativar carinho de uns e com muito custo respeito. Mas, infelizmente impor o respeito é um dos maiores problemas que estou enfrentando nas aulas. Os meninos são de famílias desestruturadas, são poucos que contam com a presença de uma mãe (que faz o papel de mãe) e fica complicado exigir respeito, quando eles não têm isso em casa.
Aquele aluno que apronta, que “xinga” uma professora, que não respeita ninguém no programa, é aquele que têm uma mãe alcoólatra e um pai preso e é cuidado pela avó junto com mais 6 irmãos, numa casa de 3 cômodos...
Já se foram dois meses de trabalho, e apesar de pouco tempo eu vivi tanta coisa ali que parece tempo demais... É tudo muito intenso e mesmo não querendo, você acaba se envolvendo muito.  É uma realidade muito dura a vida dessas crianças e adolescentes, tão diferente da minha, tem historias que parecem roteiro de filmes.
E diante disso eu fico nesse dilema: Quero dar minha aula. Quero ser respeitada. Quero que os alunos se interessem pela arte. Quero mostrar a eles um mundo diferente. Quero apresentar músicas, poesias, cores que eles nunca viram. Quero que eles acreditem em mim e assim juntos construirmos uma outra realidade. Quero conseguir fazer eles enxergarem que existem oportunidades, e que elas estão aí, basta a gente querer...

Relato: Estávamos fazendo aula ao ar livre, trabalhando com reciclagem, e eu perdi o controle da aula. Em menos de um minuto, eles jogaram tinta para todo lado, era menino correndo, brigando, chorando, e eu louca atrás deles, gritei com um...
 Um aluno de comportamento sempre difícil. E ele ficou parado quieto, só ouvindo meu “sermão”, que na verdade não era só para ele, mas naquele momento foi ele que “pagou o pato” pela confusão, depois que terminei, ele olhou para mim e falou: “Você é tão bonita professora”. Me abraçou apertado e voltou pro seu lugar.

Neste momento estamos ensaiando duas peças que escrevi. Uma está dentro dos temas que temos que trabalhar que é a dengue, no inicio foi ótimo, estavam empolgados, o texto ficou divertido, a proposta é de informar a população, vamos apresentar para a comunidade e talvez levar a peça para as escolas, e eles adoram a idéia de apresentar fora, se sentem importantes...
Mas logo vieram os problemas.
... Preguiça de ensaiar, aluno que saiu fora no meio do caminho, o outro que saiu porque o colega saiu, e quando “pega” eles na responsabilidade, temos que ensaiar, tem que decorar texto, tem que construir o cenário... Aí vem o corpo mole.
Depois de uma reunião, troca de alunos e personagens e uns puxões de orelha a coisa voltou a andar. Estamos confeccionando os figurinos, está sendo muito bacana.
A outra peça é um Show de talento, estilo um desses programas de calouros. No roteiro temos a apresentadora e três jurados. Os candidatos são os próprios alunos que tocam e cantam. Minha intenção foi abrir um espaço para os alunos mostrarem seus talentos e temos alunos muito bons, que tocam violão e cantam.

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