4 de outubro de 2011

Idéias para uma nova cena

O beijo de Clarice

Cenário: Um sofá. Um armário pequeno com livros. Uma mesinha com um porta-retratos com a foto do casal. Uma mesa de centro. Um jarro com margaridas amarelas.


1º Cena

Clarice arruma carinhosamente as margaridas amarelas no jarro de porcelana. Cantarolando troca o jarro de móveis algumas vezes. Coloca na mesinha ao lado do sofá, depois no armário ao lado dos livros e por fim na mesa que esta posta com o café da tarde. Duas xicaras a mesa. Clarice senta, serve café, com intenção de estar esperando alguém, passa os dedos nas margaridas. Toma café sozinha.

2º Cena

No fundo bolero. Miguel organiza os livros no armário. Foleando um e outro. Escolhe Drummond e começa recitar uma estrofe do poema “O amor bate da aorta”:

Miguel: Amor é bicho instruído.
Olha o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de ser estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.

Clarice aparece atrás do sofá e observa Miguel com olhar amoroso. Recita a parte final do poema.

Clarice: Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo corpos, vejo almas
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que se conversam
e que viajam sem mapa.
Vejo muitas outras coisas
Que não ouso compreender...

Miguel e Clarice: Carlos Drummond de Andrade.

Miguel: Dança comigo querida. (meu amor)

O casal dança bolero na sala.