Acordou e decidiu que não gostava mais do seu cabelo.
A vontade de mudar misturava com o medo do novo.
A mudança tinha que ser discutida.
Ele deu carta branca: "O que você fizer meu amor, eu vou gostar!"
Então vou raspar a careca.
Ou pintar de louro.
"Não!!!! Louro não..."
O corte novo é apenas estampa. É a embalagem de uma mudança que vem de dentro.
Ela queria mesmo era ter um cabelo black power...
Fugir.
Era essa a palavra que ela falava.
Fugir da rotina. Do trânsito. Da poluição. Da monotonia. Das pessoas.
Ela queria se desligar.
Ela queria não ter compromissos.
Ela queria respirar ar puro.
Sonhou durante meses o mesmo sonho.
Um lugar verde, com cachoeira dourada e uma vista pro nada.
Levou pro seu sonho as pessoas que amava.
Água gelada. Vento frio. Barulho de cachoeira. Pés na poeira.
E um céu coberto de estrelas de pirimpimpim!
Acordou naquela manhã com uma sensação tranquila.
Ficou enrolando na cama, escutando o galo cantar no quintal.
Levantou e foi até a padaria do Zé comprar pão.
Preparou o café e colocou na xícara de cobre.
Fez ovos mexidos com bacon.
Tudo no maior silêncio e com toda a delicadeza.
Abriu uma fresquinha da janela.
O sol que entrou no quarto iluminou o rosto dele.
Ela fotografou aquela imagem.
Guardando na mente um momento que é só dela.
Com um beijo carinhoso no rosto e um cafuné nos cachinhos podados.
Disse: "Vem tomar café comigo meu amor."
Bárbara Oliveira -
Em Saudades da Lapinha
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