16 de agosto de 2010

Páginas Avulsas - Letras de Alice

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Um bolero de Ravel de fundo acompanhava a cena.
Uma banheira com água fria. Já pela metade uma garrafa de vinho barato. E um violão abandonado.
A cena da mulher nua podia ser vista pela janela da sala aberta.
O vento balançava quase que no tom da música a cortina marrom.
Com os olhos fechados, Alice respirava sua solidão.
Mais um gole de vinho. Mais um cigarro. Mais um bolero.
Do outro lado da sala um espelho trincado, um baú e em cima dele um porta- retrato vazio.
Alice mergulhou.  Um mergulho de dor.
Saiu da banheira e caminhou até o espelho.
O cabelo molhado foi deixando rastro de água pelo carpete.
O caminho coberto de cacos de vidro marcou seus pés e fez um contraste com as unhas pintadas de preto.
No espelho ela conseguiu ver seu rosto marcado.
Mais uma lágrima.
A última daquela noite.
Refletido no espelho ao lado da banheira seu diário rasgado.
O vento espalhou pela sala as páginas arrancadas.
A única página que não estava amassada era aquela marcada com batom vermelho.

Letras de Alice: 
”Eu vi com meus olhos vivos.
E diante da imagem.
Eu gritei... Só me resta a vida inteira”.

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Páginas avulsas. O desabafo - Texto Bárbara Oliveira

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