5 de fevereiro de 2011

O acaso, amor e seus desastres - CAP. II

O encontro – Cap. II

Encontro no dicionário - Ato ou efeito de encontrar. Casual posição face a face com uma pessoa ou coisa. Colisão de dois corpos. Achado.
Um sol de 50º. Uma terça-feira estranha e corrida.  Luísa entra no carro e liga o som (Chico Buarque canta A bela e a fera)... Ansiosa. Confere mais uma vez o seu livro de receitas. Faz algumas anotações, olha as horas no celular e liga o carro correndo...

- To atrasada!          

Um barulho. Luísa para o carro com uma freada “que grita”.

- Ai meu Deus! Eu matei uma pessoa.

Sai correndo de dentro do carro...
Um cara caído. Uma bicicleta amassada. E várias coisas espalhadas pelo asfalto.

- Moço desculpa, eu não te vi... Tá tudo bem? Você tá bem? Ai meu Deus... Tá sentido alguma coisa?
- Roda dura! Puta que pariu! Como assim não viu?!...   
- Me desculpa. Por favor, você passou correndo com a bicicleta bem na hora que eu estava dando ré, realmente eu não te vi... Você quer fazer uma ocorrência? Vamos ligar para polícia, tem um ponto de apoio deles bem aqui perto....
- Você é muito roda dura. Como você da uma ré no carro sem olhar pelo retrovisor... Podia ter me matado sabia? ...Ai merda minhas costas.

Luísa tenta levantar o cara. Nervosa ela disfarça e tentando passar uma calma “forçada”, fala com palavras bem doce, quando na verdade queria gritar... “SOCORRO! Eu quase matei um cara.”

- Moço. Desculpa. Deixa eu te ajudar? Pera aí... É melhor você ficar aí no chão, eu vou ligar para ambulância...
- Ficar aqui no chão... Tá louca? Vai passar um carro em cima de mim e das minhas coisas.
- Deixa eu te levar para um hospital então? Você pode ter fraturado alguma coisa.

O cara não está nem um pouco a fim de facilitar a situação. Ele levanta e gritando com Luísa começa a juntar seus pertences que estão espalhados pelo chão. Começa a juntar um aglomerado de pessoas ao redor.

- Não, eu não preciso de hospital, nem polícia, nem ocorrência... A única coisa que fraturou aqui foram meus rolos de filmes novinhos, minha câmera e minha bicicleta...

Luísa começa a ficar sem graça, já tem uma multidão de pessoas observando...

- Eu sei que você ta nervoso, e que eu cometi um erro, apesar de não ter culpa... Mas eu estou tentando fazer alguma coisa para ajudar e... Estou querendo amenizar a situação...
- Cometeu um erro e não teve culpa? Como pode? Você devia ser proibida de dirigir, está colocando em risco a vida das pessoas...

- Está começando me ofender... Não precisa dessa ignorância toda, já disse que assumo meu erro. Vamos fazer uma ocorrência?
- Nãoo! Mulher no volante é nisso que dá.

Agora Luísa “chutou o pau da barraca”.

- Grosso. Não quer chamar polícia?? Tudo bem... Vou assinar um cheque...

Luísa vai até o carro, pega sua bolsa, seu talão de cheques e começa a preencher...

- Compra uma bicicleta nova e esse rolo de filme... Você quer quanto?

Parece que o cara começou a ficar empolgado com a multidão, e resolveu fazer um drama, transformando o asfalto num palco.

- Vocês estão vendo?? Quase me mata e agora quer me comprar... E isso que as pessoas capitalistas fazem... Acham que tudo pode ser comprado com dinheiro... Pessoas egoístas... O mundo já está cheio de pessoas assim. Você é só mais uma. Vai assinar um cheque e está tudo resolvido?

Entre vaias e euforias...
Naquela rua numa terça-feira comum, um atropelamento vira uma cena de filme. E as pessoas estão atentas, com os olhos fixados naquele casal, todos querem saber qual será o final.
O cara está adorando toda aquela confusão. E Luísa quer correr dali...

- Você é muito ignorante. Está querendo fazer barraco. Aparecer... Eu não vou ficar aqui participando disso. Todos aqui estão de prova que eu tentei resolver, fazer uma ocorrência, te levar para o hospital e até pagar os danos... Eu não atropelei você por querer...

Uma Senhora com a sacola pesada de feira grita: “Isso mesmo! Não liga pra esse cara não, minha filha, ele é um doido...”

- E tira essa bicicleta daí do caminho que eu vou passar.

Luísa entra no carro e vai embora ao som de aplausos. O cara termina de colocar suas coisas na mochila e saiu empurrando a bicicleta amassada.

A senhora da sacola de feira pesada de novo: “Doido!”

As pessoas vão se afastando e a terça-feira naquela rua volta à normalidade.
                                                                                                   

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