20 de fevereiro de 2011

Diário de uma nova educadora - Quando tudo começou...

Quando tudo começou...
A proposta de emprego veio através de um amigo da Cia de teatro, fiquei anestesia no primeiro momento. Para a entrevista preparei em uma noite toda minha papelada de tempos de estudos, montei meu portfólio (que já deveria estar pronto há muito tempo), juntei minhas anotações do estágio do ano passado e fiquei ensaiando o que iria dizer...
Na manhã seguinte, numa sexta-feira, em um papo de mais ou menos uma hora o emprego era meu: “Você começa na segunda-feira”.
Educadora. Oficina de teatro de um projeto social. Seis turmas por dia, aula de 50 minutos, publico alvo do programa: crianças e adolescentes carentes, moradores de comunidades com índice elevado de pobreza. Na vida desses meninos: Violência, drogas, falta de estrutura familiar, carência...
Com uma vontade imensa em fazer “muito” e com um medo do novo, eu preparei meu primeiro plano de aula para o projeto. Passei o domingo lendo minhas anotações, meus arquivos de jogos e atividades, reli algumas páginas que havia marcado do livro da Viola... Percebi o quanto foi valioso ter Marina Miranda e Danilo Curtiss como professores, Águeda Kallas como orientadora do estágio (mestra), quando comecei a pesquisar meu caderno de estudos do ano passado, valeu à pena anotar tudo, xerocar tudo. Quantas sabedorias me passaram. Saudades!
Na segunda-feira quando saí de casa ainda era noite (5:30 da manhã), estava com energia radiante,  a caminho do projeto as pessoas que cruzaram comigo no ônibus, depois no centro de BH, depois no ônibus de novo, podiam perceber  minha felicidade, estava me sentindo “grande”, dali a diante,  eu ia fazer a diferença...
Isso era muito importante para mim.
O meu primeiro dia não foi como espera. Não consegui cumprir meu plano de aula e em umas das turmas mal consegui me apresentar. A primeira impressão não foi boa. Percebi os meninos agitados, agressivos e alguns mal-educados. Teve uma turma que tive que parar a aula, pois já estava sem voz e sem energia para continuar. Nesse momento minha vontade foi de sair correndo e nunca mais voltar...
Voltei arrasada. Chorei...
Chorei pelo meu fracasso, pela decepção, pela frustração, pela minha escolha, pelas dúvidas que surgiram...
Fiquei triste pela realidade daqueles meninos.  Pela educação do nosso país. Pelo futuro que os esperam e pela falta de esperança...

“Você é capaz meu amor”. Depois de muito desabafo ao telefone. Ele tem o dom de acalmar meu coração. Como eu queria um abraço naquele dia, um carinho... Eu ia chorar, chorar, e ele fazendo um cafuné ia dizer: “Eu estou aqui”.
Ouvi conselhos do meu pai, fala sempre palavras bonitas, confia em mim e isso me dá segurança.
Mas o negocio era eu e EU. Não ia desistir tão fácil, peguei fôlego, resgatei energias e preparei meu segundo plano de aula...
Foi mais tranquilo. Começamos a conversar sobre um projeto de peça, percebi o interesse em teatro de alguns e a falta de compromisso em outros...
Educar é paciência, sabedoria, compreensão, amor, carinho, escuta...

Eu me sinto tão “preparada”, cheia de idéias, planos, projetos... E ao mesmo tempo me sinto “crua”. Mas acho que é isso, educar é aprender, nunca vamos estar preparados o suficiente...
Eu quero subir um degrau de cada vez.

13 de fevereiro de 2011

O acaso, amor e seus desastres – Cap. III

O acaso – Cap. III
Acaso no dicionário: Fato imprevisto. Casualidade. Destino, sorte.



O chopp no lugar de sempre. Desta vez o brinde vai ser em comemoração. Um encontro que seria para dois acaba sendo para três. O destino? O acaso? Uma coincidência desagradável?
- Cheguei! Nem acredito que consegui a vaga no restaurante. Finalmente vou sair daquela churrascaria fedorenta. Quem sabe até consigo voltar a comer carne, eu parei porque enjoei do cheiro... Não aguentava ver carne vermelha na minha frente, passava o dia inteiro com aquele cheiro de churrasco...
Luísa ao garçom.
- Ezequías, traz um chopp caprichado e sem colarinho, você sabe.
Sarah, eu nem sei como dei conta de fazer aquele prato depois daquela confusão com o cara ignorante da bicicleta... Eu cheguei ao restaurante tremendo... Ah! Mas deu certo, vamos comemorar... Um brinde a nova fase e sem cheiro de carne assando.

- A nova fase!!!

- As coisas estão mudando pra você, seu mês é de novidades, uma sintonia astral perfeita para reforçar sua autoconfiança e assim pronta para construir uma nova realidade no campo do amor. Lembra que te falei? Seu mapa astral está entrando na casa nove, isso significa sonhos realizados e uma fase de inspiração, vai acontecer um encontro...
- Lá vem você com essas historias de que vou encontrar o “amor perfeito”.
- Amor perfeito eu não sei. Mas que vai encontrar alguém que vá mexer com você, isso vai...
- O que foi? Porque tá me olhando desse jeito?
- Você tá de uniforme?
- Tô. O quê que tem?
- Eu tenho uma surpresa pra você.
- Aé? Que delicia! O que é?
- Chamei o Miguel para vir comemorar com a gente, e ele já ta chegando, acabou de me ligar...
- Não acredito que você fez isso comigo... Tinha que me falar...
- Aí não seria surpresa... E também se eu te falasse você não ia concordar, ia encher de “caraminholas” na cabeça e não daria certo.
- Como vou conhecer uma pessoa assim? Eu to fedendo a churrasco, estou de uniforme sujo, com o cabelo desse jeito...
- Eu não sabia que você viria de uniforme.
- Eu não sabia que tinha um encontro.
- Vai ao banheiro e passa um batom, um blush e tá tudo certo...
- Por isso a Senhorita veio com historinha de mapa astral no campo do amor... Ah Sarah, sua bandida.
- Vai ao banheiro logo. E prende esse cabelo pelo amor de deus.

Luísa volta do banheiro e Sarah já não está mais sozinha na mesa.

- Ela voltou... Então... Miguel essa é a...
-... A roda dura!!!
- O ignorante da bicicleta!!!
- Isso só pode ser piada...
- Não acredito!
- Sarah, esse aí, é o grosso que eu tive a infelicidade de esbarrar na terça-feira...
- Sarah, essa aí, é a roda dura que quase me matou na terça-feira...
- Que brincadeira é essa Sarah??
- Eu não acredito no que está acontecendo...
- Pera aí gente!!! Vocês dois não percebem? Isso é coisa do acaso, destino... Eu sabia, não é coincidência.
- Para com isso Sarah... Você não está entendendo. Esse cara foi aquele que armou aquela confusão comigo no meio da rua, lembra? Ou quer que eu conte de novo?
- Eu já escutei essa historia mais de uma vez Luísa... E vocês dois parem de se alfinetar. Vamos parar de agir feito criança birrenta, somos três adultos... Me  deixam fazer as apresentações... Miguel essa é a minha amiga que te falei Luísa, Luísa esse é o meu amigo Miguel.
- Que palhaçada!
- Luísa!
- Destino? Isso é praga!
-Miguel!
- Tô indo embora...
- Não Luísa, é a sua comemoração...
- Eu vou embora! Afinal é a sua comemoração... Valeu Sarah pelo convite, depois a gente se fala.

- Um amor no meio de uma confusão... Quer confusão maior do que essa de terça-feira?
- Você não está falando sério?
- É obra do acaso.
- Se continuar falando disso eu vou embora.
- Tá bom, desculpa. Vamos pedir outra bebida.
... Só mais uma coisa... Você jura que não achou essas coincidências estranhas?
- Achei uma coincidência desagradável!

Continua...

5 de fevereiro de 2011

O acaso, amor e seus desastres - CAP. II

O encontro – Cap. II

Encontro no dicionário - Ato ou efeito de encontrar. Casual posição face a face com uma pessoa ou coisa. Colisão de dois corpos. Achado.
Um sol de 50º. Uma terça-feira estranha e corrida.  Luísa entra no carro e liga o som (Chico Buarque canta A bela e a fera)... Ansiosa. Confere mais uma vez o seu livro de receitas. Faz algumas anotações, olha as horas no celular e liga o carro correndo...

- To atrasada!          

Um barulho. Luísa para o carro com uma freada “que grita”.

- Ai meu Deus! Eu matei uma pessoa.

Sai correndo de dentro do carro...
Um cara caído. Uma bicicleta amassada. E várias coisas espalhadas pelo asfalto.

- Moço desculpa, eu não te vi... Tá tudo bem? Você tá bem? Ai meu Deus... Tá sentido alguma coisa?
- Roda dura! Puta que pariu! Como assim não viu?!...   
- Me desculpa. Por favor, você passou correndo com a bicicleta bem na hora que eu estava dando ré, realmente eu não te vi... Você quer fazer uma ocorrência? Vamos ligar para polícia, tem um ponto de apoio deles bem aqui perto....
- Você é muito roda dura. Como você da uma ré no carro sem olhar pelo retrovisor... Podia ter me matado sabia? ...Ai merda minhas costas.

Luísa tenta levantar o cara. Nervosa ela disfarça e tentando passar uma calma “forçada”, fala com palavras bem doce, quando na verdade queria gritar... “SOCORRO! Eu quase matei um cara.”

- Moço. Desculpa. Deixa eu te ajudar? Pera aí... É melhor você ficar aí no chão, eu vou ligar para ambulância...
- Ficar aqui no chão... Tá louca? Vai passar um carro em cima de mim e das minhas coisas.
- Deixa eu te levar para um hospital então? Você pode ter fraturado alguma coisa.

O cara não está nem um pouco a fim de facilitar a situação. Ele levanta e gritando com Luísa começa a juntar seus pertences que estão espalhados pelo chão. Começa a juntar um aglomerado de pessoas ao redor.

- Não, eu não preciso de hospital, nem polícia, nem ocorrência... A única coisa que fraturou aqui foram meus rolos de filmes novinhos, minha câmera e minha bicicleta...

Luísa começa a ficar sem graça, já tem uma multidão de pessoas observando...

- Eu sei que você ta nervoso, e que eu cometi um erro, apesar de não ter culpa... Mas eu estou tentando fazer alguma coisa para ajudar e... Estou querendo amenizar a situação...
- Cometeu um erro e não teve culpa? Como pode? Você devia ser proibida de dirigir, está colocando em risco a vida das pessoas...

- Está começando me ofender... Não precisa dessa ignorância toda, já disse que assumo meu erro. Vamos fazer uma ocorrência?
- Nãoo! Mulher no volante é nisso que dá.

Agora Luísa “chutou o pau da barraca”.

- Grosso. Não quer chamar polícia?? Tudo bem... Vou assinar um cheque...

Luísa vai até o carro, pega sua bolsa, seu talão de cheques e começa a preencher...

- Compra uma bicicleta nova e esse rolo de filme... Você quer quanto?

Parece que o cara começou a ficar empolgado com a multidão, e resolveu fazer um drama, transformando o asfalto num palco.

- Vocês estão vendo?? Quase me mata e agora quer me comprar... E isso que as pessoas capitalistas fazem... Acham que tudo pode ser comprado com dinheiro... Pessoas egoístas... O mundo já está cheio de pessoas assim. Você é só mais uma. Vai assinar um cheque e está tudo resolvido?

Entre vaias e euforias...
Naquela rua numa terça-feira comum, um atropelamento vira uma cena de filme. E as pessoas estão atentas, com os olhos fixados naquele casal, todos querem saber qual será o final.
O cara está adorando toda aquela confusão. E Luísa quer correr dali...

- Você é muito ignorante. Está querendo fazer barraco. Aparecer... Eu não vou ficar aqui participando disso. Todos aqui estão de prova que eu tentei resolver, fazer uma ocorrência, te levar para o hospital e até pagar os danos... Eu não atropelei você por querer...

Uma Senhora com a sacola pesada de feira grita: “Isso mesmo! Não liga pra esse cara não, minha filha, ele é um doido...”

- E tira essa bicicleta daí do caminho que eu vou passar.

Luísa entra no carro e vai embora ao som de aplausos. O cara termina de colocar suas coisas na mochila e saiu empurrando a bicicleta amassada.

A senhora da sacola de feira pesada de novo: “Doido!”

As pessoas vão se afastando e a terça-feira naquela rua volta à normalidade.
                                                                                                   

3 de fevereiro de 2011

2 de fevereiro de 2011

O acaso, amor e seus desastres - CAP. I

O acaso, amor e seus desastres 
         
Personagens
Miguel um cineasta desempregado, maluco, que ganha a vida dando aulas particulares de física. E passa seu tempo filmando, fotografando e procurando alguma coisa interessante para fazer um curta.
Luísa uma recém formada chefe de cozinha que chegou de Paris depois de uma longa temporada de estudos em restaurantes de primeira linha e hoje ganha seu dinheiro numa churrascaria “xinfrim”.
Sarah a amiga em comum, sempre otimista, vive no mundo da lua, estudante de filosofia e amante da astrologia.
CAP I - O desencontro

Desencontro no dicionário - Ato ou efeito de desencontrar.
Divergência, discordância.

- Ele deve ter tido algum problema... Com certeza.
- Sei.
- Você podia ficar mais animadinha. Ou pelo menos fingir...
- Eu sabia que isso não ia prestar.
- Podem acontecer imprevistos com as pessoas sabia?
- Você sempre me mete em encrenca Sarah. Não sei como fui cair nessa de novo.
- Desta vez é diferente. Ele é o cara certo pra você.
- Os outros também eram...
- Quando conheci ele na semana de astrologia eu bate o olho e senti que tinha que apresentar vocês... Depois quando ficamos amigos, aí então eu tive certeza.
- Você é louca. E eu mais ainda, que fico acreditando nessas besteiras de horóscopo, numerologia, mapa astral e...
- Isso é muito sério. E se eu falei que vocês estão ligados pelo destino, é melhor acreditar em mim. Eu não ia brincar com essas coisas.
- A cartomante disse que eu iria encontrar um amor em meio uma confusão, e que eu não iria perceber quando o conhecesse.
- Então.
- Você vai me apresentar o cara Sarah e que confusão poderia acontecer aqui no bar?
- Pra quem não acredita nessas besteiras de astrologia, está dando muito importância para o que uma cartomante disse...
- Vamos embora?
- Mas já? E se ele aparecer aqui?
- Já esperamos demais.
- Se ele atendesse o celular...
- Vamos Sarah. To indo pagar a conta.

Continua...