30 de dezembro de 2010

Heavy Metal, tequila e um homem tatuado - Último Cap.

O fim. Quer dizer o começo...
 
Cap. 11 - Quem se atreve a me dizer do que é feito o samba?
06/12/2010

Lava a alma. Espanta energia ruim. Traz alegria. Reuni as pessoas. Sorriso malandro. Balanço gostoso. O som que toca.
A noite de samba foi esperada, reveladora e um começo.
Viviane viu o “metaleiro” sem roupa preta, segurando firma na sua cintura e sambando pelo salão. Descobriu que o Crüe não chama Crüe e sim Francisco, Chico mais carinhosamente e que Crüe é um apelido “estranho” que seus amigos “metaleiros” o batizaram, uma historia complicada que sinceramente não interessava a Vivi. Chico é muito mais real e normal. Dessa vez não teve tequila e sim muita cerveja gelada. Apesar de terem passado uma noite inteirinha juntos, o segundo encontro tinha mais cara de primeiro encontro. As piadinhas e o joguinho criados nos telefonemas não existiam mais...
Crüe, quer dizer Chico, se sentiu a vontade de contar os problemas que estava passando, desde a falta de emprego para músicos, a contas atrasadas e a um sonho fracassado de uma banda de heavy metal...
Viviane explicou a sua vida louca de produtora de moda e Chico entendeu que não existe só “glamour” nessa profissão. Falou das decepções amorosas e sobre o ultimo “pé na bunda” que levou, contou detalhadamente sobre as noites de choro, filmes românticos e muito brigadeiro.
Chico riu da desilusão amorosa de Vivi e declarou que jamais amou uma mulher de verdade.
Eles sambaram, falaram do passado e de planos para o futuro.
O samba foi até de madrugada...

6:42 da manhã. Silêncio. Chico abre os olhos. Meio lerdo, observa o lugar. Uma estante com muitos livros, separados por temas: Moda, romances, ficção, poesias e mais poesias...
Uma máquina de costura, tecidos, revistas, papéis e mais papéis rabiscados.
Uma garrafa de vinho vazia, duas taças, velas e incensos queimados.
O cheiro é de rosas brancas. Dá uma boa espreguiçada e encosta e alguma coisa que mexe... “Caraca!”
Chico fica um tempo admirando o rosto de Vitória, o cabelo vermelho bagunçado, os olhos borrados ainda da maquiagem de ontem. Não existe ressaca, apenas uma sensação boa e leve. Chico coça a cabeça: “Puta que pariu, eu to apaixonado”.
Vivi levanta e ao seu lado na cama o livro de Drummond com uma poesia marcada:
Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho, em rotação universal, senão rodar também, e amar?”.
Com um bilhete: Obrigado pelo samba, já diria meu chará, Chico “Se todo mundo sambasse
Seria tão fácil viver”, to indo na padaria, Não foge. Me espera. Desta vez merecemos um belo café da manhã.

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27 de dezembro de 2010

Sarau de Poesias II











Casa do Charles 18/12/2010

Amigo querido, muita poesia e muitas flores em sua vida!

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Luis Fernando Veríssimo (crônica) -  Leitura Charles e Bárbara

Uma surpresa para Daphne

Daphne mal podia acreditar nos seus ouvidos. Ou no seu ouvido esquerdo, pois era neste que chegava a voz de Peter Vest-Pocket, através do fone.

- Daphne, você está aí? Sou eu, Peter.

Quando finalmente conseguiu se refazer da surpresa, a pequena e vivaz Daphne - era assim que a legenda da sua foto como debutante no "Tattler" a descrevera, anos atrás - esforçou-se para controlar a voz.

- Você quer dizer o sujo, tratante, traidor, nojento, desprovido de qualquer decência ou caráter, estúpido e desprezível Peter Vest-Pocket?
- Esse mesmo. É bom saber que você ainda me ama.
- Seu, seu...
- Tente porco.
- Porco!- Foi por isso que eu deixei você, Daphne. Você sempre faz o que eu mando. Era como viver com um perdigueiro. Agora acalme-se.
- Porco imundo!
- Está bem. Agora acalme-se. Pergunte por que é que eu estou telefonando pra você depois de dois anos.
- Não me interessa. E foram dois anos, duas semanas e três dias.
- Eu preciso de você, Daphne.
- Peter...
- Preciso mesmo. Eu sei que fui um calhorda, mas não sou orgulhoso. Peço perdão.
- Oh! Peter. Não brinque comigo...
- Daphne, você se lembra daquela semana em Taormina?
- Se me lembro.- Do jasmineiro no pátio do hotel? Das azeitonas com vinho branco à tardinha no café da praça?
- Peter, eu estou começando a chorar.- E daquela vez em que fomos nadar nus, ao luar, e veio um guarda muito sério pedir nossos documentos, e depois os três começamos a rir e o guarda acabou tirando a roupa também?
- Não. Isso eu não me lembro.
- Bom. Deve ter sido em outra ocasião. E a pensão em Rapallo, Daphne.
- A pensão! O velho do acordeão que só tocava "Torna a Sorriento" e "Tea for Two".- E a festa de aniversário em que nós entramos por engano e eu acabei fazendo a minha imitação do Maurice Chevalier com laringite.
- Ah, Peter...
- Lembra o pimentão recheado da "signora" Lumbago, na pensão?- Posso sentir o gosto agora.
- Qual era mesmo o ingrediente secreto que ela usava, e que só nos revelou depois que nós ameaçamos contar para o seu marido do caso dela com o garçom?
- Era... Deixa ver. Era manjericão.
- Você tem certeza?
- Tenho. Ah, Peter, Peter... Não consigo ficar braba com você.
- Ótimo Daphne. Precisamos nos ver. Tchau.
- Tchau?! TCHAU?! Você disse que precisava de mim, Peter!
- Precisava. Eu estou fazendo aquele pimentão recheado para uma amiga e não me lembrava do ingrediente secreto. Você me ajudou muito, Daphne, e...
- Seu animal! Seu jumento insensível! Seu filho...
- Daphne, eu já pedi desculpas. Você quer que eu me humilhe?

17 de dezembro de 2010

Palácio das Artes - Apresentação Fábula







Fábula - A onça, o macaco e a anta
A desgraça de uns pode servir de lição a outros...

A onça, a anta e o macaco voltam alegres, de um jogo de bolas de gude contra outros animais da floresta. Sentam-se no chão, e a onça entrega à anta uma sacola cheia de bolinhas.
- Onça: Vamos ver quantas bolinhas a gente ganhou daquele tamanduá otário. Anta, você conta e divide.
- Anta: Deixa comigo.
A anta começa a repartir as bolinhas em 3 partes iguais.
- Onça: O que você está fazendo?
- Anta: Tem 15 bolinhas no total. Estou dividindo por 3 (acabando de repartir). Pronto: Deu cinco bolinhas para mim, cinco pro compadre macaco e cinco para senhora dona onça.
- Onça: (levantando-se furiosa) O quê???
- Anta: Quinze por três, cinco, né?!..
- Onça: Isso é lá divisão que se faça, sua anta?
- Anta: Mas... Mas...
- Onça: (partindo para cima da anta) Mas o quê!?
Apavorada, anta cai morta de medo.
- Onça: Bem feito: Hoje minha janta vai ser carne de anta... (ao macaco) Divida você por dois.
Tranquilamente o macaco recolhe as bolinhas, junta todas e retira apenas uma para si.
- Macaco: A senhora dona onça pode ficar com o resto...
- Onça: (um pouco surpresa) Vai ficar só com essa, seu macaco?
- Macaco: É uma divisão... Justa, senhora dona Onça.
- Onça: To gostando de ver... E desde quando você aprendeu a dividir tão bem assim?
- Macaco (olhando desolado para anta morta) Desde que a comadre anta, aqui, partiu desta para melhor... (para platéia). A desgraça de uns pode servir de lição a outros...
CAI O PANO
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2 de dezembro de 2010

A espera de Ana


Cenário: Um quarto fechado. Escuro. Ambiente pequeno e frio. Papeis com desenhos feitos com tinta estão pendurados pelo quarto e pregados na parede. (desenhos desconfigurados de margaridas amarelas).
A cena começa com Ana inquieta andando pelo quarto, passando a mão pela parede, passeando pelos desenhos.

Ele vem me buscar.
(PAUSA)
Eu sei que vem. (afirmação) Para platéia - Sentada
Essa espera é uma angustia que chega doer. (sensação de dor)
A esperança é o combustível que alimenta a vida dos seres humanos, vivemos assim o dia a dia, sempre na esperança que o amanhã vai ser melhor que o hoje. E o que seria da gente sem esperança? (levanta)

Ana dança pelo quarto
Um sábado à tarde passei na floricultura para pegar uma encomenda, passeando por entre as flores e mudas eu o vi. (Ana faz a cena).
Estava descalço e dançava sobre o chão de terra molhada, enquanto preparava um arranjo de margaridas amarelas. Quando me viu esticou a mão e me convidou para dançar. E ficamos ali os dois dançando sem música em meio às margaridas.

Ana demonstra estar colhendo e cheirando uma flor
Eu nunca imaginei amar uma pessoa assim.  Pra mim o amor sempre foi tão egoísta. Mas com ele era diferente. Era amor por completo. Um amor sem dor. Um amor de flor.
Com ele os meus medos iam pro vão. 

O quê que é? (Para platéia)
Nunca amou ninguém? (pausa pequena)
Aquele que nunca amou.
Que nunca se entregou. Que nunca se enlouqueceu...  (louca)
(Pausa)
Que nunca sentiu medo... Que atire a primeira pedra! (Grito)

Porque meu Deus? Por quê? (irritação/grito)
Porque foi embora e me deixou aqui? (decepção)
Se não vier me buscar o que vou fazer com nossos sonhos?
O que vai ser do meu corpo?
Eu me sinto tão vazia. Eu não tenho mais nada por dentro... Você levou minha alma...
(agitação/ Ana corre pelo quarto e cai ao chão)

(PAUSA)
E agora eu fico aqui com essa solidão, cercada de medos...
Esperando por você.
Vem me buscar meu amor. Eu não quero mais ficar aqui. Eu to cansada. (deitada no chão)
(sentada) Na noite anterior da manhã que ele foi embora, chovia muito e eu estava assustada, inquieta eu disse a ele: “Estou com um sentimento estranho meu bem, meu coração tá apertado. É um pressentimento. Algo de ruim vai acontecer...” E fazendo um carinho em meu rosto, ele disse: “Se acalme mulher! Nada de ruim vai acontecer. Está tudo bem, é apenas uma chuva passageira. Vamos fechar os olhos e escutar as gotas de água batendo no telhado... (silêncio) Boa noite minha Rainha”.

E na manhã seguinte eu acordei sozinha.